domingo, 17 de fevereiro de 2013

A raiva

Sufoca. Aperta o pescoço com a mesma leveza de quem acaricia seu rosto ou afaga seus cabelos.
Queima. Queima que nem o poema quando lido na intensidade do pulsar do sangue nas veias.
Enjoa. Uma náusea sem propósito, sem comida estragada, sem gravidez. Mas com gravidade porque...
PESA! Cinco, dez, vinte, mil quilos. Nos ombros, nas pernas, nos olhos, nos peitos, nas unhas. Toneladas de alguma coisa que coisa alguma seria tão ruim.
Arranca. Toda fé, meta, sonhos, obstinação. Joga no ralo, na privada, no bueiro... na sarjeta. Tira na força, mas deixa o amargo na boca.
E por falar, AMARGA, trava. É rançoso, ruim, rancoroso, raivoso, nervoso. A boca saliva, mas não mata a sede, tu engole a saliva, mas a garganta permanece seca. É suco de caju.
Dói, rói e corrói. Pinga devagar, abre buraco mental, enferruja as artérias e os sentimentos. Tira a cor dos cabelos, a melanina, o batom, o esmalte, o sapato, a roupa.
Nua. Te deixa assim: sem pele e sem roupa, corroída, queimada, sem fé, sufocada, enjoada e tomando um terrível suco de caju na sarjeta.

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