terça-feira, 24 de junho de 2008

Olhar

Às vezes eu lembro de você da época em que não nos conhecíamos e como era mais fácil conviver.
Eu lembro que olhar era tudo o que fazíamos. Como eu gostava de te olhar e só.
Hoje eu posso te olhar e ficar sem graça, mais que antes até, quando tu me olhas também. Hoje eu posso te abraçar e até beijar tua bochecha.
Posso rir contigo, falar contigo e rir de ti. Já sei que posso.
Antes eu aguentava mais apenas olhar, hoje não tanto. Talvez seja porque eu posso tantas outras coisas além de olhar...
Só olhar (e de vez em quando) era "suficiente". Estou "saturada" de te olhar sempre e falar e abraçar e beijar tua bochecha...


E como eu minto mal!

domingo, 22 de junho de 2008

Tudo a Ver

Luiza Possi
Composição: Jorge Vercilo


Eu não fico vulnerável assim com nada
Tô com medo de entrar na pilha errada

Você morde e assopra

Eu não sei disfarçar

Pode até ser viagem minha

Quando a gente se vê
Eu não sei o que dá

Eletricidade no ar

Eu não sei se tem a ver, mas vou dizer
Eu tô louco por você

E vai ver, tudo a ver eu e você
Só você finge não ver

Finge não ver

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Só isso

Meu amor me disse "adeus".
Não levou nada, nada mesmo.
Deixou as tardes no banquinho, os beijos na lua cheia, os abraços à beira-mar.
Deixou comigo um coração de pelúcia e pedaço de papel: "eu te amo, mas não posso ficar. eu te amo muito!"
Maldito pedaço papel que não sai da minha agenda. Maldita agenda que não sai da minha bolsa. Maldita bolsa que não desgrudo. Maldito você que não sai da minha cabeça.
Maldito "eu te amo muito!".

Quero você aqui e agora. Não quero coração de pelúcia e muito menos um pedaço de papel. Não quero nem as tardes no banquinho, nem os beijos na lua cheia e nem os abraços à beira-mar.
Eu só quero olhar nos teus olhos e sentir tua respiração.
Só te quero perto.

Só isso.

De Lou à Lou

Faltavam alguns minutos para que eu tivesse realmente que acordar, mas só por teimosia acordei antes e fiquei enrolando na cama. Parecia mais um daqueles dias chatos e intermináveis, a começar pelo dispertador que passou meia hora pra tocar.
Levantei com uma dor de cabeça terrivel que se assemelhava a uma torneira pingando numa placa de metal no meio da noite. Percebeu como era irritante? Pois bem, isso não podia abalar meu fabuloso dia com cara chato e interminável, lavei o rosto e fui até a cozinha procurar algo que não desse trabalho para preparar. Pão com patê e água pareceu favorável.
Comi e fui trocar de roupa, parei em frente ao espelho e comecei a observar o quanto eu estava estranha fisicamente: cabelo meio preso totalmente assanhado, cara superinchada, seios imensos e, por incrível que pareça, eu acordei mais magra. Não se isso se deve ao fato de no trabalho eu só conseguir engolir uma jujuba a cada 2 horas! Um fato alarmante: me achar mais magra, o que me levava a crer que eu tinha acordado psicologicamente estranha também.
Bem, eu tinha exatamente meia hora pra chegar no trabalho e não escutar um "atrasada de novo, hein Lou?" daquela secretária gorda, velha e insuportável. Ok, ela não era nem tão gorda, nem tão velha, mas insuportável sim, é um fato indiscutivel! Troquei de roupa as pressas, escovei os dentes, calcei os sapatos, peguei a bolsa e corri pro elevador. Cheguei na garagem e... DROGA! Carro no conserto. Já estava conformada com o "atrasada de novo, hein Lou?" daquelazinha; parada de ônibus, lá vou eu!
Pelo menos o ônibus colaborou, não estava tão cheio e o motorista parecia também estar atrasado, mas o caminho era longo e o atraso inevitável, bem, eu já estava atrasada. Sentei e "relaxei". Minha cabeça latejava muito, o ônibus balançava muito e de repente eu vi que iria encher muito. Sem estresse, sem estresse, eu já estava sentada mesmo, só havia um lugar que era justamente ao meu lado, acho que aquelas pessoas já sabiam que naquela altura do campeonato só havia dois lugares no ônibus, mas eu estava lá, portanto só havia um! Elas se acotovelavam pra entrar, era deprimente ver aquela cena, algo como "Welcome to the Jungle". Alguém tinha que vencer e adivinhem quem venceu! Não, não foi a insuportável da secretária, foi uma moça interessante, mas a insuportável estava logo atras, o que significaria que ela iria ficar em pé e isso era inexplicavelmente gratificatante, me senti vingada pro resto da vida.
Mas a infeliz não me escapou e eu agradavelmente soltei: "atrasada hein?". Mas ela não se deu por vencida e disse com a cara de bunda mais ridicula do mundo: "atrasada, mas não estou atrasada DE NOVO!". Como alguém pode ser assim como ela? Eu não entendo! Meu inferno astral estava de volta, chegar com ela no trabalho era muito azar, e olhe que eu nem acredito nisso!

As horas não passavam, acho que ela atrasava o relógio com algum controle, era inacreditável como o tempo não passava naquela sala. Pessoas fúteis que só falavam de coisas fúteis e queriam formar adolescentes fúteis. Eu trabalhava numa revista para adolescentes, aquelas revistas que só falam de "como conquistar seu gato", ou "seus cabelos prontos para o verão", ou aqueles testes ridiculos de "será que ele é mesmo afim de você?". Coisas assim me deprimem. Então por que eu continuei lá? Porque eu tinha contas a pagar, era o meu primeiro emprego e eu sabia mentir muito bem(ainda sei).
Depois de 10 horas naquele universo rosa paralelo, minha cabeça doia mil vezes mais, mas a parte boa era o barzinho mais calmo e simpático da região era ali perto.
"Por favor um chá de camomila." O garçom era novato e era também o mais garçom visto lindo... digo, digo, o mais lindo garçom visto. Ele tinha cara de intelectual e que só trabalhava ali para pagar contas, porque era o primeiro emprego e ele sabia mentir bem. Talvez não fosse os mesmos motivos, mas parecia muito. Ele me sorriu e foi buscar meu chá, me trouxe numa xícara cheia de corações e eu ridiculamente comecei a fantasiar mil coisas com aquele cara. Como assim casar? Filhos? sou ridicula! Fui para casa tomar um banho e dormir, mas não consegui dormir, não mesmo. Aqueles cabelos compridos, aqueles olhos puxadinhos escondidos por trás de um óculos de aros pretos, aquele corpo magro, aquele piercing na língua e aquela tatuagem meio a mostra por baixo das mangas... Eu suspirava, tem noção?!
Parecia uma adolescente! Uma adolescente de 20 anos suspirando por um cabeludo tatuado com piercing, com certeza meu avô adoraria conhecê-lo.

No dia seguinte, depois das horas intermináveis, lá estou no barzinho mais calmo e simpático da região novamente só pra ver meu cabeludo e lá estava ele do mesmo jeitinho... "Oi, aqui está o cardápio." *tum tum tum* "Obrigada!". Virgemmariasantíssima, que voz, que jeito, que... puta merda!eu estava apaixonada. Mas nada importava, afinal eu trabalhava quase 9 horas por dia e eu nem gostava do meu trabalho, o que tinha demais me apaixonar pelo homem perfeito? Nada!
"Oi, eu vou querer um chá de camomila por favor."
"Ok. Já venho."
Sorri.
"Aqui está seu chá." e sorriu. Um sorriso lindo!
Passei a acordar mais cedo, sair mais cedo, chegar no trabalho mais cedo (evitando assim os "atrasada de novo, hein Lou?" daquela mosntra), saindo do trabalho mais cedo e indo pro Zen mais cedo, tomando chá mais cedo e saindo mais tarde, claro!
Depois de um mês frequentando o Zen diariamente, até o gerente me conhecia, isso era bom porque o Yuri também me conhecia.
"Oi Lou, vai querer o que hoje?"
"Tá afim de me trazer o que hoje, Yuri?"
"Um chá de camomila, pode ser?"
Nos aproximamos muito e um dia ele perguntou se eu não queria que ele me levasse em casa.
"Olha, eu não tenho moto, nem carro, nem bicicleta, mas pago sua passagem, pode ser?".
Foi assim que eu descobri que eu nunca mais queria ficar sem ele.

Doscobri que ele trabalhava com tattoo e body piercing, mas não tinha dinheiro pra montar um estúdio, por isso trabalhava na Zen, ele tinha 22 anos de idade e tinha uma filhinha de 2 aninhos que se chamava Lou! Eu fiquei boba com isso. A pequena morava com a mãe e visitava ele nos finais de semana e ele se desdobrava pra pagar pensão alimentícia. Foi criado com o pai, a mãe morreu num acidente de carro quando ele tinha 15 anos e o pai morreu quando ele tinha 21 anos, ainda conseguiu ser avô.

Saíamos nos domingos à noite depois que a pequena Lou ia embora, mas éramos só amigos e eu detestava sair com ele, o meu melhor amigo. Quase todas as minhas noites de segunda à sexta eram no Zen, com ou sem chá de camomila. Uma amiga minha, a única creio, sempre dizia que ele gostava de mim, mas era uma questão de tempo. Seis meses.
Ele montou o estúdio e logo depois me pediu em namoro, 5 meses depois ele pediu para que eu me casasse com ele, ou melhor, juntasse os meus trapos aos dele e a minha vida a dele. Passaram 2 anos até que a Kamille, a mãe da filha dele, se matou e a gente pasou a criar a Lou. Ela é uma graça, e passou a me chamar de mãe. É muito estranho ser chamada de mãe aos 23 anos por uma criança que tem o mesmo nome que o seu.
Yuri ganhava bem pacas com o estúdio e eu sai daquela revista para adolescentes cabeça oca e fui para outra bem melhor.

Somos uma família feliz. O Yuri trabalha no que gosta, eu também e a Lou... bem, a Lou quer fazer uma tatuagem aos 13. Decidimos não entrar numa crise familiar agora.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Rãs numa manhã de domigo

Frio e saudade.
O frio a gravava a saudade eu sentia do Yuri. Nossa pequena Lou dormia angelicalmente naquela manhã fria de domingo.
Viagem a trabalho. Tão chato isso. Duas semanas sem ver o homem que pagou a minha passagem do ônibus e me deixou em casa sã e salva. Eu sabia que ele era pra casar.
Decidi então passar o tempo, só para variar, escrevendo. Sentei na varanda e, de frente à muitas árvores e ninhos me veio a idéia de escrever sobre a natureza, soltar meu lado ultra ecológico. Já havia escrito alguns parágrafos, quando escuto um grito.
Era Lou.
Meu Deus!
Larguei tudo no chão e saí correndo em disparada, minha filha estava encolhida no canto cama fugindo de duas rãs nada agradáveis. Não pensei duas vezes e agarrei aquelas monstrinhas e as joguei do quinto andar, peguei Lou e conversei que aqueles seres não faziam medo, e sim tinham medo. Concordo que foi algo difícil de fazê-la aceitar, mas no final das contas ela estava chorando porque "as rãsinhas morreram, mamãe".
Enquanto ela tomava café da manhã, eu fiquei sentada na varanda pensando sobre o meu amor pela natureza. Percebi que agi mal matando duas rãs só para minha filha não ficar gritando, matei dois seres inocentes e indefesos. Já estava na sétima folha só escrevendo sobre rãs e maldades e coisas do gênero.
Rasguei tudo.
Natureza... amo muito, mas não nasci com o dom de realmente aceitar tudo. Deixei isso para a inocência da minha filha que mostrou um desenho lindo: ela abraçada com duas rãs.
Se o Yuri estivesse em casa, as rãs não teriam morrido, mas quem mandou escolher a hora errada.
Descobri que não amo rãs.
Lou sim, descobriu que ama muito as árvores, pássaros e rãs. Ela ama muito as rãs.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amor de cinema

Amor...


Me liga bem cedinho e diz que me ama, ou bem tarde pra me lembrar que ama. Me deixa sorrindo à toa o dia inteiro, me beija quando eu menos esperar. Implora pra que eu fique um pouco mais, e faz drama, eu preciso dos teus dramas cinematográficos.


Eu amo tuas cenas carinhosas em câmera lenta, e amo mais ainda quando tu pula as cenas de briga. Quado tu começa a me olhar e dá pause, ou quando tu me diz que pararia a noite pra sempre só pra ficar me fazendo rir como uma boba apaixonada.


O teu amor de cinema me faz sentir num filme alternativo, num filme com cenas e histórias altamente inesperadas.


Quando tu lembra que o que eu fiz pra te conquistar foi algo como Amélie Poulain, e que se eu não o tivesse feito teu albúm jamais estaria completo...


É, eu sei que amores cinematográficos não saem da tela e quando existem acabam tão rápido como a melhor cena de um filme.


Não me importa, não me importa mesmo se o nosso filme não for todas as horas cenas bonitas, o que me importa é o meu e o teu papel nele, que tu não esteja só interpretando o personagem, quero que tu seja o personagem.