domingo, 18 de outubro de 2009

O último carnaval

Aquela música, baixinha, ouvia-se ao longe... Ela já sabia, aqueles sininhos que se aproximavam e de repente paravam em frente ao seu portão, ela já saia. Levava consigo algumas moedinhas e seus olhos gulosos brilhavam, tomava as duas cocadas em suas mãos, sorria para Seu Gil e entrava serelepe.
Havia anos que ela evitava os doces, mas agora não adiantava mais, engordar ela não iria mais, celulites ou colesterol alto não a atingiriam mais. A enfermidade a consumia, ela estava pele e osso... e qual é a graça de esperar pela morte sem comer doce? Ah, não! Oxe! Ela tinha mais era que curtir a vida, e isso ela fazia bem, nunca vi menina mais animada, acho que porque, no fundo, ela sabia que aqui era só uma passagem.
Ela sorria o tempo todo, cantava e quando a doença dava uma trégua, ela se danava pelas ruas, bares e boates da cidade. Amava o carnaval, subia e descia todas as ladeiras de Olinda e emendava no Recife Antigo, era forte e saudável. Quem diria? Ninguém, jamais, diria que ela tinha um câncer. Era modelo, era linda, um sorriso verdadeiro, uma mente extraordinária, conversava coisas que modelos normais (hahahaha) não conversava. Era inteligente horrores, assustava até.
Nunca nos disse qual câncer tinha, quando ficou careca, comprou lenços lindos e coloridos (a cara dela).
No último carnaval, brincou todos os dias e o dia todo, foi pro Bacalhau do Batata e no fim da tarde chamou todos os amigos, disse o quanto nos amava, e lá sentada fechou os olhos e se foi. Sorrindo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Fragmentos de agendas, cartinhas, bilhetes, recados em caixas-portais. Mulheres sempre reclamando. Dos homens; enquanto eles tentam lidar com a estúpida significância de possuir um pênis. Mulheres sem pênis, gastando tempo em excesso com o cérebro. Homens ficando duro embaixo de suas calças. Nunca, nenhuma dessas coisas, no tempo certo. Tsk, a humanidade é terminantemente patética. Devia dar vergonha ser daqui. Daqui, sabe?

Fernanda Young