quinta-feira, 11 de setembro de 2014

NÃO!!!
Eu jurei pra mim mesma que você iria mais afetar meu humor, minhas noites de sono, minha capacidade de sorrir. 
Eu jurei pra mim que você não iria mais me afetar.
Essa noite mal dormida, acordando de hora em hora
Saber de coisas desagradáveis pra mim...
Não! Você não vai mais ter esse poder sobre mim
E se preciso for eu vou embora só pra não me desdizer
Não vou quebrar minha promessa, não vou mesmo.
Essa dor de cabeça que acordou comigo, que eu permiti ter porque inventei de chorar antes de dormir
Eu deveria dizer que a culpa é sua.
Ora porra!
É mesmo! Mas não vai se gabar às minhas custas. 
Não vai saber da minha vida, não vai debochar da minha raiva, não vai me olhar com cara de inocente e se fazer de doido, não vai se culpar e se lamentar o resto do dia.
Eu não tenho pena nem de mim e nem de você
E se aguenta que hoje eu liguei o foda-se!
Bom dia!

domingo, 7 de setembro de 2014

Me gritaram negra - Victoria Santa Cruz

Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
"Por acaso sou negra?" – me disse
SIM!
"Que coisa é ser negra?"
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra,
Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
E retrocedi . . .
Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Neeegra!Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo,e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costasminha pesada carga
E como pesava!...
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Negra! Negra!Negra! Negra! Negra!
E daí?
E daí?
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
De hoje em diante não quero alisar meu cabelo
Não quero
E vou rir daqueles,que por evitar – segundo eles –que por evitar-nos algum disabor
Chamam aos negros de gente de cor
E de que cor!
NEGRA
E como soa lindo!
NEGRO
E que ritmo tem!
Negro Negro Negro NegroNegro Negro Negro NegroNegro Negro Negro NegroNegro Negro Negro
Afinal
Afinal compreendi
AFINAL
Já não retrocedo
AFINAL
E avanço segura
AFINAL
Avanço e espero
AFINAL
E bendigo aos céus porque quis Deus que negro azeviche fosse minha cor
E já compreendi
AFINAL
Já tenho a chave!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO
Negra sou!

Mulata exportação - Elisa Lucinda

“Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!
Hoje é um daqueles dias. 
Dias bons, dias bonitos. 
Tão bonitos que são aflitos. 
Afogam a tristeza, e a alegria também.
Te deixa assim:
Observando, neutra.
Hoje é um daqueles dias que os sentidos estão aguçados
Os coração acelerados
E alguns dilacerados
Mas não se importe
Porque hoje é um daqueles dias que nascem te chamando pra viver
Aproveite o embalo e vá na dança
Pise leve se não cansa
Sinta o brisa doce e mansa
Faça rima, faça o bem, faça o amor acontecer
Aquele coração não deve padecer
Hoje é aquele dia!
Vem mansinho cheio d'água, e fica quente e azul
E nesse dia, hoje, tem um sorriso guardado só pra tu.